Déficit e Dívida em 2024: o que revela a comparação entre os principais Países?
- Paiva Piovesan
- 22 de abr.
- 3 min de leitura

A edição desta terça-feira da [2a.INVEST] ocorre excepcionalmente fora do nosso dia habitual, em função do feriado de 21 de abril — uma data simbólica para os mineiros e para o Brasil. Neste dia, lembramos a Inconfidência Mineira, movimento que marcou a luta por liberdade e justiça, e também nos recordamos da despedida de um papa, que deixou sua marca na história recente.
Inspirados por esse momento de reflexão sobre valores, lideranças e futuro, abordamos hoje um tema crucial para o presente e os próximos anos: a situação fiscal das grandes economias globais.
Em 2024, o mundo ainda sente os reflexos da pandemia, das guerras e das mudanças no tabuleiro geopolítico. No centro das atenções econômicas, está o equilíbrio fiscal dos países — um termômetro da sua saúde financeira, credibilidade e capacidade de investir no próprio desenvolvimento. A comparação entre as principais economias em termos de déficit nominal e dívida bruta em relação ao PIB revela não apenas suas estratégias internas, mas também os riscos e oportunidades que moldarão o cenário global.

Estados Unidos: potência com déficit estrutural
Com um déficit de aproximadamente 6,4% do PIB, equivalente a US$ 1,8 trilhão, os Estados Unidos lideram em números absolutos. O déficit elevado já se tornou estrutural e tem sido parcialmente sustentado pela força do dólar como moeda global. A dívida bruta americana já ultrapassa 123% do PIB, chegando a impressionantes US$ 35 trilhões.
O desafio para os EUA será manter sua atratividade para investidores, em meio ao aumento dos juros e à competição global por capital.
Japão: o campeão da dívida
O Japão apresenta o maior nível de endividamento entre as grandes economias: 216% do PIB. Mesmo com um déficit de 6,2%, o país se mantém relativamente estável por conta de sua alta poupança interna e política monetária ultra flexível. Ainda assim, a questão demográfica coloca pressão adicional sobre os gastos públicos.
Brasil: o desafio com o juros
Muitas vezes colocado como vilão fiscal, o Brasil aparece com um déficit nominal de 6,0% do PIB, próximo ao dos EUA e do Japão, mas num contexto muito distinto. A dívida bruta brasileira, em torno de 78% do PIB, ainda é moderada em comparação a países desenvolvidos, mas apresenta riscos por causa dos juros elevados e da rigidez orçamentária.
Além disso, com um câmbio médio de R$5,39 por dólar, o déficit nominal brasileiro em 2024 atinge US$ 130 bilhões, revelando o impacto do câmbio na leitura externa das contas públicas.
Índia e França: cargas diferentes, contextos semelhantes
Ambos os países apresentam déficits ao redor de 6%, mas a Índia sustenta esse nível com um forte crescimento econômico (mais de 7% em 2024), enquanto a França lida com os custos da transição energética e de seu generoso sistema de seguridade social.
China: a caixa-preta fiscal
Com um déficit estimado em 4% do PIB, a China ainda apresenta desafios em termos de transparência. O valor absoluto é superior a US$ 750 bilhões, e a dívida pública – quando se incluem governos locais e estatais – pode chegar a 110% do PIB. A desaceleração econômica e a crise no setor imobiliário preocupam analistas globais.
Europa: contrastando Alemanha e Itália
A Alemanha, tradicionalmente fiscalmente austera, mantém déficit de apenas 2% do PIB, com uma dívida abaixo da média europeia. Já a Itália, mesmo com um déficit controlado em 3,4%, tem uma das maiores dívidas públicas do mundo: 135% do PIB, o que limita sua margem de manobra fiscal.
Canadá: gestão prudente com déficit moderado
O Canadá aparece com um déficit de 2% e dívida próxima de 85% do PIB. Com economia diversificada e foco em habitação e mudanças climáticas, o país equilibra prudência fiscal com políticas sociais de longo prazo.
O Que Isso Significa para o Futuro?
A análise dos dados mostra que déficit fiscal elevado não é exclusividade de países em desenvolvimento. Os números revelam que a sustentabilidade da dívida depende de vários fatores: confiança dos investidores, taxa de crescimento econômico, política monetária e, especialmente, capacidade institucional de implementar reformas.
No caso do Brasil, a posição não é confortável e é preciso que o país consiga manter o crescimento e controlar os gastos obrigatórios. Já para países como EUA e Japão, o desafio será continuar a financiar seus déficits sem perder a confiança do mercado global.
No fim, não é o tamanho da dívida que assusta, mas a ausência de um plano claro para lidar com ela.
Comments